Amo tanto o amor como a amada
sombra que certo dia se esvaiu...
Exausto às vezes, prestes a ser ave
sem ter lume, fósforo sem pavio,
amo tanto o amor como a amada
esfinge, submersa (e cauta) no vazio
de se exaurir para sempre na rajada
dum cavalo ardente em rumor de rio.
Amo tanto o amor como a amada
luz que, trémula, nos confins do escuro,
tão depressa é deserto como é mosto,
tão depressa é dormência como é viva
impulsão de dança, fogo posto
de medusa vibrante, embora esquiva.
(in Sonetos de Cogitação e Êxtase, Átrio, 1994)
João Rui de Sousa (n. Lisboa, 12 Out 1928 )
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