Perdi-me dentro de mim
Porque eu era labirinto,
E hoje, quando me sinto,
É com saudades de mim.
Passei pela minha vida
Um astro doido a sonhar.
Na ânsia de ultrapassar,
Nem dei pela minha vida...
Para mim é sempre ontem,
Não tenho amanhã nem hoje:
O tempo que aos outros foge
Cai sobre mim feito ontem.
(...)
Desceu-me n'alma o crepúsculo;
Eu fui alguém que passou.
Serei, mas já não me sou;
Não vivo, durmo o crepúsculo.
Álcool dum sono outonal
Me penetrou vagamente
A difundir-me dormente
Em uma bruma outonal.
Perdi a morte e a vida,
E louco, não enlouqueço...
A hora foge vivida,
Eu sigo-a, mas permaneço...
.......................
......................
Castelos desmantelados,
Leões alados sem juba....
..........................
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Dispersão (excerto)
Paris - maio de 1913
Mário de Sá-Carneiro (n. 19 Mai 1890; m. 26 Abr 1916)
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