Quando eu nasci, tocava o fogo
Na minha freguesia,
E um meu vizinho, que perdera ao jogo,
Golpeava as veias, quando eu nascia.
Chegando ao mundo, comigo vinha
Uma irmãzinha,
Pó que, mudado em flor, voltou logo a ser pó...
E eu comecei, chegando ao mundo, a ver-me só...
A linda gémea, que Deus me dera,
Logo morria, mal nascera,
Morria logo...
Na freguesia, tocava a fogo...
Com tais avisos, com tais presságios,
Breve me afiz a padecer, sem protestar,
Ódios, tormentos, decepções, lutos, naufrágios,
Os idos, os de agora e os mais que hão-de chegar.
Eugénio de Castro (1869-1944)
(in «Antologia», Introdução, Selecção e bibliografia de
Albano Martins, Imprensa - Nacional Casa da Moeda,
Lisboa, 1987)
Sem comentários:
Enviar um comentário