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2012-04-02

Esfinge - Francisco Costa

Nada se sabe, nada. As almas são
Perpetuamente alheias.-Que se oculta
Por trás duns olhos límpidos? Em vão
O olhar mergulha e o espírito consulta.

Só a carne se funde, as almas não.
Dentro do peito que o ouvido ausculta
Distingue-se o pulsar dum coração,
Mais nada. A esfinge permanece oculta.

Inexplicável, entre nós e a vida
De nós mais achegada e conhecida,
Há sempre um denso véu que não transpomos.

Vemos as formas sem que as penetremos,
E enfim nem de nós próprios nós sabemos
Se a morte um dia nos dirá quem somos.

Extraído de Antologia de Poemas Portugueses Modernos, por Fernando Pessoa e António Botto,
Ática Poesia

Francisco José Lopes da Costa (n. em Sintra a 12 de Agosto de 1900; m. em Sintra a 2 de Abril de 1988).

Ler do mesmo autor, neste blog, Pedra Alta


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