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2008-08-26

SONETO XXXI - Reis Quita


Quando em meu desvelado pensamento
O teu formoso gesto se afigura,
Não sei que afecto sinto, ou que ternura,
Que a toda esta alma dá contentamento.

Ali fico num largo esquecimento,
Contemplando na minha conjectura
De teu sereno rosto a graça pura,
De teus olhos o doce movimento.

Porém logo a inconstante fantasia
Me acorda o entendimento arrebatado,
E desfaz todo o bem que me fingia,

Sendo tal este gosto imaginado,
Que de Amor outra glória eu não queria
Mais que trazer-te sempre em meu cuidado.

Domingos dos REIS QUITA nasceu em Lisboa a 6 de Janeiro de 1728 e aí morreu, tuberculoso, a 26 de Agosto de 1770. Embora exercesse a humilde profissão de cabeleireiro e barbeiro, adquiriu, como autodidacta, uma cultura que lhe permitiu ser um dos mais destacados membros da Arcádia Lusitana, com o nome de Alcyno Mycénio. Foi autor de várias tragédias, mas é sobretudo notável como poeta bucólico.

Nota biobliográfica extraída de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.



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