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2016-04-22

Quissange - Saudade Negra - Thomaz Vieira da Cruz



Não sei, por estas noites tropicais,
o que me encanta...
Se é o luar que canta
ou a floresta aos ais.

Não sei, não sei, aqui neste sertão
de musica dolorosa
qual é a voz que chora
e chega ao coração...

Qual o som que aflora
dos lábios da noite misteriosa!

Sei apenas, e isso é que importa,
que a tua voz, dolente e quase morta,
já mal a escuto, por andar ausente,
já mal escuto a tua voz dolente...

Dolente, a tua voz "luena",
lá do distante Moxico,
que disponho e crucifico
nesta amargura morena...

Que é o destino selvagem
duma canção em que tange,
por entre a floresta virgem
o meu saudoso "Quissange".

Quissange, fatalidade
deste meu triste destino...
Quissange, negra saudade
do teu olhar diamantino.

Quissange, lira gentia,
cantando o sol e o luar,
e chorando a nostalgia
do sertão, por sobre o mar.

Indo mares fora, mares bravos,
em noite primaveril
acompanhando os escravos
que morreram no Brasil.

Não sei, não sei,
neste verão infinito,
a razão de tanto grito...

-Se és tu, oh morte, morrei!

Mas deixa a vida que tange,
exaltando as amarguras,
e as mais tristes desventuras
do meu amado Quissange!

Thomaz Vieira da Cruz nasceu em Constância, Ribatejo, em 22 de abril de 1900. Viveu em Angola a maior parte da sua sua vida. Fundou com outros, em Novo Redondo, onde viveu largos anos, o Jornal Mocidade. Considerado um percursor da literatura angolana, faleceu em Lisboa em 7 de junho de 1960.

2 comentários:

tulipa disse...

Olá Fernando

Quando preciso de ler uma boa poesia
é aqui que a procuro

Sei que há sempre algo belo, para ler.

Obrigado pela partilha.

Sabes que cada dia que passa,
mais adoro estar com a natureza
Contemplar aquilo que é natural e construído por Deus
não pelo homem

Sabes aquele ditado:
quanto mais conheço o homem mais gosto dos animais?

como não tenho animais
eu digo:
quanto mais conheço o homem mais gosto da natureza!

Sou um ser humano que gosta de conviver, conversar
e, na impossibilidade de fazer uma festa real
onde poderia juntar as pessoas conhecidas

decidi fazer festas virtuais
e, digo:
pois se nem nas festas virtuais as pessoas aparecem

quanto mais numa festa real...?

e fico triste, a sério
porque haveria de mentir
é a verdade

3ª feira foi o meu aniversário e esperei por ti,
no entanto,
não apareceste na festa que organizei.
Ainda estás a tempo, caso queiras.

Beijinho e bom fim de semana.

sandrinha disse...

Lindíssimo poema,gostei imenso!!

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