Doce língua portuguesa
Com sabor a mel e sal:
uma faustosa ceia à mesa,
na cama, um vendaval;
Sedutora, de beleza incontida,
Língua de fel e de saudade.
Mulher fiel, mal compreendida,
Ganha mais valor com a idade.
Perturbadora, límpida, singela...
Pimenta, açafrão, canela...
Pedra preciosa e filigrana;
Sou teu súbdito e tu tirana.
Desfloro-te e assassino
e logo após te imagino
virgem e te redescubro
para sentir-te, outra vez, ao rubro
eterna mas sempre diferente
como só a alma pátria a gente sente.
Nota: inspirado em A Língua Portuguesa de Alberto de Lacerda, que se reproduz a seguir:
Esta língua que eu amo
Com seu bárbaro lanho
Seu mel
Seu helénico sal
E azeitona
Esta limpidez
Que se nimba
De surda
Quanta vez
Esta maravilha
Assassinadíssima
Por quase todos os que a falam
Este requebro
Esta ânfora
Cantante
Esta máscula espada
Graciosíssima
Capaz de brandir os caminhos todos
De todos os ares
De todas as danças
Esta voz
Esta língua
Soberba
Capaz de todas as cores
Todos os riscos
De expressão
(E ganha sempre à partida)
Esta língua portuguesa
Capaz de tudo
Como uma mulher realmente
Apaixonada
Esta língua
É minha Índia constante
Minha núpcia ininterrupta
Meu amor para sempre
Minha libertinagem
Minha etena
virgindade.
1 comentário:
Parabéns, Fernando.
Abraço,
Rui
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