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2010-03-13

Mahmoud Darwish

só me resta
perder-me pela tua sombra, que é a minha.
só me resta
habitar a tua voz, que é a minha.

afastei-me da cruz estendida
como claridade em horizonte que não se inclina
até ao mais minúsculo monte que a vista alcança
mas não achei minha ferida, minha liberdade.

porque não sei onde moras
não encontro o caminho,
e porque meu dorso não se apoia em ti com pregos
inclinei-me tanto
como teus céus fazem
a quem espreita de escotilhas de avião

devolve-me os pedaços do meu nome
para que possa convocar as fibras das árvores
devolve-me as letras do meu rosto
para que possa chamar as tempestades próximas
devolve-me as razões do meu prazer
para que possa invocar esse regresso sem razão

porque a minha voz está seca como pau de bandeira
e a minha mão vazia como o hino nacional
porque a minha sombra é ampla como se fora uma festa
e os traços do meu rosto se passeiam de ambulância,
porque eu não sou mais do que isto:
o cidadão de um reino que não nasceu ainda.

Tradução de Adalberto Alves

in Rosa do Mundo, 2001 Poemas para o Futuro, Assírio & Alvim

Mahmoud Darwish محمود درويش (n. Al-Birweh, 13 Mar. 1942 - m. Houston, 9 de agosto de 2008)

1 comentário:

Olhos de Mel disse...

Querido Fernando; achei o poema surpreendente e maravilhoso! Um enígma que só depois de 2 leituras descobrir. Bom fim de semana! Beijos

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