Tuas cartas rasguei uma por uma:
cento e catorze páginas e tiras
de juramentos, de promessas, em suma
de perfídias, de sonhos, de mentiras.
Mas... chorei ao rasgá-las! Tinha alguma
cousa a implorar nelas por ti; e as iras
foram-se e, agora, cólera nenhuma
neste peito haverá, por mais que o firas.
Eram mentiras, eu bem sei... No entanto,
cada rompida página era um cardo
que enterrava no peito em cada canto.
E eis porque, ajoelhado, após instantes,
os pedaços juntei... e agora os guardo
com mais amor do que os guardava dantes!
Humberto de Campos (n. Miritiba, 25 Out 1886; m. Rio de Janeiro, 5 Dez 1934)
in A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa - Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, CRL, 2004
2 comentários:
Quem nunca teve desgostos de amor?
E apesar disso gostou de os os ter? Não propriamente de ter os desgostos, mas de amar?
Sérgio
Quantos de nós já passou por situaçoes semelhantes, caríssimo amigo!
O bom mesmo é poder viver e poder sair de situaçoes assim!
Passei para retribuir os votos de uma linda semana e deixar-te beijos e sorrisos!
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