O bolo barato da criança pobre
Onde encontrarei justiça no mundo,
Onde me esconderei dos olhos do Vulto
Invisível que espreita pelas estrelas
Quando o coração vê pelos olhos o mistério olhar o universo?
Minha emoção concreta, ó brinquedo de crianças,
Ó pequenas alegrias legítimas da gente obscura,
Ó pobre riqueza exígua dos que não são ninguém...
Os móveis comprados com tanto sacrifício,
As toalhas remendadas com tanto cuidado,
As pequenas coisas de casa tão ajustadas e postas no lugar
E a roda de um dos mil carros do rei vencedor
Parte tudo, e todos perderam tudo.
Que imperador tem o direito
De partir a boneca à filha do operário?
Que César com suas legiões tem justiça
Para partir a máquina de costura da velha
Se eu fôr pela rua
E arrancar a fita suja da mão da garota
E a fizer chorar, onde encontrar qualquer Cristo?
Álvaro de Campos
Meu comentário:
Ao reler este poema de Álvaro de Campos, escrito a propósito da guerra, não deixo de o associar também aos recentes trágicos acontecimentos vividos na Indonésia, Sri Lanka e outros países vizinhos atingidos pelo tsunami. Também eu já escrevi que estes acontecimentos tornam a mim mais compreensível aqueles que duvidam da existência de Deus - "...onde encontrar qualquer Cristo?". Espero que outros mais nobres desígnios do Criador se sobrelevem à destruição física e devastação psicológica que tais acontecimentos provocaram em tanta gente. Que a solidariedade humana possa, minimizar até ao possível, os danos.
1 comentário:
Sem dúvida que os recentes acontecimentos ocorridos na Ásia nos chocaram a todos, portanto estes momentos são de reflexão. É importante reflectir sobre o valor da vida e empenharmo-nos para ajudar aqueles que mais precisam.
(Sílvia)
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